Editorial

Entre prometer e executar


Passou a repercutir nos últimos dias entre grande parte dos gaúchos um vídeo do então candidato a vice-governador Gabriel Souza (MDB), durante uma sabatina realizada ao longo da campanha eleitoral, em que o emedebista afirmou categoricamente que não haveria aumento na alíquota cobrada dos servidores públicos estaduais pelo plano de saúde do IPE. Na gravação, ao ser questionado sobre o entendimento de sua chapa, Souza posiciona-se firmemente contra a possibilidade de mudança nos percentuais incidentes até então sobre os vencimentos dos segurados.

“Não vamos aumentar alíquota. (…) Se aumentar alíquota, vamos afugentar ainda mais os servidores, e esses servidores vão ir para o SUS. Então não adianta aumentar alíquota, é uma coisa meio lógica. Se aumenta alíquota tira vidas do IPE Saúde e para onde vão essas vidas? Para o Estado. Então o Estado vai pagar igual. Aumento o problema no IPE Saúde e aumento o problema no SUS”, disse à época o atual vice-governador, eleito ao lado de Eduardo Leite (PSDB).

Como não poderia deixar de ser, o registro agora recuperado provoca reação não só entre bancadas de oposição, cujas críticas à proposta do governo visando a recuperação do IPE-Saúde eram esperadas e têm sido fortes desde o anúncio do plano, há pouco mais de uma semana. O reflexo maior – e, portanto, provocador de maior desgaste a Leite, Souza e todo o governo – ocorre diante da bronca de parcela significativa dos gaúchos (servidores e familiares) que será diretamente atingida pelas mudanças, caso venha a se confirmar o aval da Assembleia Legislativa à proposta do Palácio Piratini. Afinal de contas, o texto prevê justamente aquilo negado com ênfase: a alta de 3,1% para 3,6% na alíquota de contribuição dos servidores ao plano de saúde do Estado.

A contradição entre o dito ano passado por Souza e o executado pela atual gestão (governador e vice) não é a primeira e, possivelmente, não será a última a existir quando se trata de candidato e gestor. Se puxar pela memória, todo eleitor há de lembrar de firmes compromissos públicos de parlamentares, prefeitos, governadores e presidentes enquanto ainda pleiteavam o cargo e que, ao longo dos quatro anos seguintes, se mostraram mais flexíveis do que os discursos prévios indicavam.

Assim como é fundamental o papel cidadão de estar atento ao que dizem e fazem seus atuais e futuros gestores, também faz parte do amadurecimento democrático a responsabilidade dos candidatos e governos em comprometerem-se com aquilo que podem – e pretendem – fazer. O desgaste é inerente a quaisquer governantes. Melhor, então, que seja com base no que de fato estabeleceram como pacto com os cidadãos.

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